19 julho 2010

Jornalistas estrangeiros debatem exercício profissional e acesso aos meios na Espanha

Paula Vivanco, jornalista italiana; Hassan Akioud, do Observatório Linguamón de la Llengua Amaziga, da UAB; e a moderadora Verónica Chelotti, do SPC
.
“Periodistes d'aquí i d'allà: informació de tothom” foi a tema da II Jornada de Periodistes de Mitjans per a la Immigració (Jornada de Jornalistas de Meios para a Imigração) realizada sexta, dia 16, no Auditório da Biblioteca Francesca Bonnemaison, em Barcelona, numa promoção conjunta dos Sindicatos de Jornalistas da Catalunha (SPC) e de Profissionais da Comunicação, com apoio da Federação de Sindicatos de Jornalistas, secretarias de Meios de Comunicação e para a Imigração da Generalitat e Diputació de Barcelona. O evento reuniu jornalistas de diversos países, especialmente latino-americanos e marroquinos, que trabalham em meios de comunicação para a imigração ou generalistas na Espanha.
Realizado com o objetivo de tratar do exercício da profissão, o evento possibilitou conhecer a realidade do mercado de trabalho e as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia por jornalistas imigrantes. Entre os desafios, segundo Dardo Gómez, secretário da Federação de Sindicatos de Jornalistas, estão: ausência de regulamentação da profissão, o que permite a qualquer pessoa trabalhar como jornalista; 45% dos jornalistas não possuem nenhum tipo de cobertura ou assistência; não há uma lei de autoria e atualmente está em tramitação uma lei que prevê a autoria coletiva, favorável aos meios e não aos profissionais; os imigrantes não possuem contrato algum, sendo dispensados nos meses de férias.
A prática profissional na Espanha foi debatida em relação à vizinha Itália, país onde há regulamentação, além de exigência de estar inscrito no sindicato para atuar como jornalista. Se por um lado tal situação é favorável ao exercício profissional, por outro o torna impraticável para imigrantes que não possuem cidadania ou passaporte italiano, já que somente os cidadãos italianos, ou reconhecidos legalmente como tal, podem ser incluídos no sindicato. Tal condição levou à criação da Associazione Stampa Nazionale Interculturale (ANSI), um braço do sindicato de jornalistas, que visa a debater a inserção dos imigrantes, especialmente de segunda e terceira geração, nos meios de comunicação. Presente no evento, a vice-presidente da ANSI, a jornalista chilena Paula Vivanco, destacou que para além da regulamentação que impede a inserção de estrangeiros, as empresas são familiares e é importante “conocer a la persona justa” para trabalhar como jornalista, mesmo com registro no sindicato.
Outra questão tratada no evento é o acesso dos profissionais estrangeiros aos meios generalistas, que atualmente está gerando um debate sobre implantação ou não de cotas de imigrantes nos meios espanhóis. Os jornalistas estrangeiros convergem quanto à necessidade do acesso, mas não concordam com a política de cotas. Por argumentos divergentes, os meios também são contrários às cotas. A diretora da TV3, da Catalunha, Mònica Terribas, por exemplo, diz que a emissora consegue ser plural ao convidar especialistas para participar de seus programas. Ainda, que a pluralidade não está na participação de um imigrante falando de temas relacionados ao seu país, mas tratando de outros assuntos.

Mònica Terribas, diretora da TV3; a moderadora Nadal, da Fundação Bofill e vice-presidenta da Mesa per a la diversitat audiovisual del CAC;  Marco Schwartz, colombiano, diretor de opinião do diário Públic; e Esther Samper, da Catalunya Radio.
.
Direito à Informação
Dardo Gómez, secretário da Federação de Sindicatos de Jornalistas
.
O acesso à informação levou a Federação de Sindicatos de Jornalistas a desenvolver campanha no sentido de orientar os cidadãos de que eles são os proprietários da informação e não os meios. Ainda, que precisam exigir dos políticos a regulamentação do direito à informação. Para o secretário da Federação de Sindicatos de Jornalistas, Dardo Gómez, “o problema para a informação não são os políticos, mas os meios de comunicação e seus proprietários”. A proposição desta campanha também se espelha no país vizinho e, neste sentido, há o contraponto de que apesar da mobilização por acesso à informação na Itália, há a “lei da mordaça” de Berlusconi, e o esfacelamento dos meios públicos e crescimento dos privados, diante do argumento de que os primeiros estão a serviço de um governo. Vale ressaltar que os meios privados são de propriedade do atual Primeiro Ministro.
Em relação ao acesso à informação, a jornalista chilena Paula Vivanco, que reside na Itália, destaca que falta incluir os imigrantes no termo cidadãos. “Os imigrantes também são cidadãos. Muitos se dão conta de como são representados pela mídia depois de muitos anos no país, quando têm um domínio maior do idioma”, acrescenta.
.
Competências dos jornalistas estrangeiros
Stroe Iancu Marian, romenio; Tan Hui, chinesa; moderador Siscu Baiges, COM Radio; Rafael Monroy mexicano; e Claudia Cucchiarato, italiana.
.
Aos jornalistas imigrantes na Espanha cabe falar de imigração, seja nos meios para a imigração ou nos generalistas. Entre os palestrantes, Stroe Iancu Marian Claudiu, romenio que atua na Revista Raíz, de Madrid; Tan Hui, chinesa que trabalha na Barcelona Televisiò; e Rafael Monroy, mexicano da Mundo Hispano e Agència Diversimedia, ambas de Barcelona, compartilham a experiência de que é diferente trabalhar desde a Espanha para o país de origem, que para uma empresa espanhola. Nestas lhes cabe duas funções: a) ou falar das temáticas que circundam a imigração, como o narcotráfico, no caso de jornalistas colombianos e mexicanos, e terrorismo, para os de origem muçulmana; b) ou fazer programas voltados aos demais imigrantes de mesma nacionalidade, na língua do país de origem, e às vezes bilíngües já que o catalão é uma exigência nos meios públicos da Catalunha. A jornalista chinesa, Tan Hui, por exemplo, produz programa em chinês.
Estes jornalistas compartilham também o desejo de falar de temas locais.  Para Claudia Cucchiarato, correspondente do italiano L'Unità, os imigrantes escrevem sobre seus países, mas poderiam tratar questões locais desde perspectivas externas, o que contribuiria para uma produção mais global e diversa.
A jornalista chilena Paula Vivanco falou, ainda, da dificuldade em manter meios para a imigração na Itália, mesmo que alternativos, uma vez que a lei permite apenas aos jornalistas registrados atuar como redatores responsáveis. Tal situação faz com que jornalistas italianos assinem publicações que desconhecem o conteúdo por não dominarem a língua em que está redigido.
.
Angela Zamin, de Barcelona