Sob o título “O xerife da ética” a reportagem, publicada na edição do dia 25 de junho de 2008 da revista Veja, aborda de uma maneira um tanto escrachada a vida pregressa do atual presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, Sérgio Moraes. Deputado do PTB gaúcho, já foi acusado de receptação de jóias roubadas entre outros crimes amplamente escancarados na matéria. Com o Congresso Nacional desmoralizado perante a opinião pública pelos sucessivos escândalos de corrupção de seus pares, Sérgio Moraes, que era dono de uma boate e já foi condenado por envolvimento em rede de prostituição, parece estar na casa certa, hão de pensar a maioria dos leitores da revista.
Longe de defender o político como vítima inocente da imprensa, o fato de recapitular um passado negro em ano de eleições não me causa tamanho estranhamento como a forma com que o texto foi conduzido, sem ser tratado com notória seriedade. A repercussão, num sentido de sensacionalização do tema, deu muito certo: a edição da revista esgotou em Santa Cruz do Sul, cidade onde foi iniciada a trajetória do deputado cuja esposa, Kelly Moraes, concorre à prefeitura este ano também pelo PTB. Nos bairros da cidade, políticos ligados ao grupo de situação reproduziram as páginas de Veja e distribuíram entre os moradores; na internet, versões escaneadas circulavam por e-mails como verdadeiras correntes.
O fato crucial é que nem sequer foram aprofundadas questões mais reflexivas acerca do tema, imprescindíveis na composição de uma reportagem nos moldes jornalísticos: as informações discorridas rapidamente, verdadeiras enxurradas de picaretagem e corrupção, mais se parecem com uma ficha na polícia. Uma abordagem das implicações do passado negro e da conduta do político para com o parlamento ficou em aberto. Oras, ninguém é eleito para um dos postos mais importantes da Câmara dos Deputados sem a concessão de terceiros, vozes silenciadas no texto. Além da própria figura central da matéria, apenas duas outras fontes secundárias foram entrevistadas e a elas dedicadas apenas duas frases. Por fim, a reportagem encerra com uma entrevista transcrita parcialmente. Uma entrevista séria deveria tomar muito tempo, o que não acontece na matéria em questão. Mesmo tendo o entrevistado solicitado a publicação na íntegra de seus dizeres, apenas uma pequena parte, quiçá o trecho mais explosivo, teve o mérito de estampar meia página. Seguindo os moldes citados por Umberto Eco em Cinco Escritos Morais, o jornalista estimula a imprudência do deputado. Dentro de uma dinâmica muito parecida com as dos talk-shows, Morais revela seu baixo nível em linguajares repletos de palavrões e ameaças ao entrevistador e à própria Veja. A entrevista deixa de ser cautelosa para transformar-se em algo pitoresco e imediatista. Prato cheio para quem adora saborear apenas mais um capítulo da desmoralização do cenário político brasileiro.
(Grace Bender Azambuja)
* Texto apresentado na disciplina de Crítica das Práticas Jornalísticas.
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Um comentário:
Só gostaria de deixar a observação de que este texto surgiu no meio do período eleitoral e que Sérgio Moraes construiu sua carreira na cidade onde resido e voto (Santa Cruz do Sul). Foi prefeito por dois mandatos e não compactuo com política dele.
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