O recente embate da Petrobrás com as empresas de comunicação do Brasil acerca da divulgação de material jornalístico merece uma atenção da academia. O que se deu na queda de braço da assessoria de imprensa da empresa com os grandes jornais do país foi algo mais que uma estratégia de defesa dos jornalistas institucionais frente ao determinismo editorial dos jornalistas dos impressos. Não se tratou apenas de proteger a Petrobrás da edição de falas e dados de sorte a sugerir manipulação por parte da chamada “grande mídia”. O que temos no episódio é uma ruptura do paradigma que até então norteava as relações entre o jornalista e a fonte. Esta última sempre disposta e esforçada no sentido de fornecer as informações de seu interesse e conveniência procurando o convencimento da primeira sobre a verdade da sua versão. O jornalista, de sua parte, tentando nos seus contatos com a fonte extrair o máximo de dados ou depoimentos que comprovassem as suas suspeitas sobre o fato ou mesmo uma tese já formulada na redação e a qual restaria tão somente comprová-la no trabalho de campo. Do embate de interesses entre jornalista e fonte, o primeiro sempre gozou da vantagem da “edição”, etapa no processo de produção jornalística, no qual se faz escolhas do que será ou não publicado. Sem falarmos na estrutura do texto que poderá induzir linhas de leitura. Com a chegada de novas formas de publicação não centralizadas, com distribuição aberta a qualquer acesso público, a fonte também pode fazer escolhas na edição do texto e dar, a saber, suas linhas de sugestão de leitura. No caso da Petrobrás, a publicação integral no Blog da empresa de todas as perguntas feitas pelos jornalistas da imprensa e as respostas apresentada pelas fontes da empresa, mostra-se uma medida que permitiu ao leitor atento comparar com as versões publicadas nos jornais. Uma nova possibilidade de construção de texto e de leitura.
Ensaiando uma proposição preliminar e com o intuito de provocar debate, o que temos nessa ruptura é resultado da reconfiguração produzida pelos meios digitais de realização e publicação que produzem uma nova ambiência de produção, distribuição e de consumo jornalístico. Um espaço público onde emissor e receptor, jornalista e fonte, autor e leitor passam a operar uma nova dinâmica de relações sociais, políticas, culturais e, até mesmo, econômicas. Essa ambiência que chamo de midiosfera avança no sentido de espaço público já distendido por Habermas. Esse espaço que se redesenha na midiosfera é que nos cabe compreender e mapear. No caso particular que nos ocupa, averiguar o do jornalismo.
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(Alexandre Kieling)
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Um comentário:
Muito bom o texto, mas não me sinto na condição de opinar sobre o assunto por ainda não ter informações suficientes sobre o episódio. Inclusive, dia desses, conversando com um amigo de infância que trabalha na assessoria da Petrobras, optamos por não tocar no assunto, já que ele estava cansado de falar sobre isso, e eu, por outro lado, estava cansado de falar sobre a questão da queda do diploma. E ele queria saber das manifestações aqui em Porto Alegre, e eu dessa história. No fim, chegamos ao consenso de que ambos, falando sobre esses assuntos, acabávamos por ficar de mal-humor, então decidimos tomar uma cerveja (cada um no seu computador, óbvio) e relembramos as histórias do nosso tempo de colégio. Mas enfim, a discussão é pertinente. Confesso que me sinto sobre o fio da navalha: entendo tanto o lado dos jornalistas de redação, quanto do bogueiro. Parece algo como as discussões entre marido e mulher.. difícil opinar por enquanto.. abraço
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