Ao observar a cobertura jornalística atual pode-se delinear uma avaliação sobre o modo de fazer jornalismo de alguns veículos de comunicação. A capacidade de desagregar e descontextualizar informações, isolando-as das demais relativas à questão central tratada, dá margem para compreender que o jornalismo praticado hoje deixa de atender aos anseios de uma sociedade que, num processo continuo de complexificação, não pode mais ser tratada apenas como uma massa de consumidores de informação.
Toma-se como exemplo a notícia publicada numa agência de notícias on-line, no dia 22 de agosto deste ano. Os profissionais deste veículo se reduziram a informar apenas as condições em que ocorreu a morte do trabalhador rural Elton Brum da Silva, de 44 anos, alvejado pelas costas durante ação de despejo da Brigada Militar ocorrida na manhã do dia 21 de agosto, em São Gabriel (RS). Elton estava entre as famílias sem terra que ocupavam a Fazenda Southall, reinvindicando a desapropriação do restante da área para a reforma agrária.
Ao publicar o texto jornalístico, o veículo ofereceu uma abordagem simplista, preocupando-se apenas em revelar dados colhidos junto aos sem-terra, sem sequer esclarecer o ponto de vista das autoridades policiais e representantes do Estado, como forma de contraponto. Sem contar a falta de contextualização sócio/histórica que deveria acompanhar o texto, para possibilitar ao leitor o entendimento dos sucessivos acontecimentos que tem norteado a questão agrária nos últimos anos no Rio Grande do Sul.
Mas o jornalismo praticado pela agência de notícias aqui analisada é comumente enxergado em outros periódicos que circulam por aí. Essa caracterização pode ser vislumbrada a partir do que a professora de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Chile, Mar de Fontcuberta, chama de Jornalismo Mosaico. Segundo a pesquisadora, a partir da desagregação de informações, da explicação dos conteúdos mediante a simplificação, da busca por responder a um formato preestabelecido e, ainda, da construção de pautas sem articulação com outras são marcas do jornalismo atual. Para a autora, “o princípio da simplicidade ou bem separa o que está ligado (disjunção) ou bem unifica o que está disperso (redução). E por isso distorce.”
Corroborando com a autora, pode-se considerar que a maioria dos meios de comunicação atua em relação inversa ao progresso da sociedade, quando as páginas se convertem em um espaço no qual as notícias são escritas sem articulação e, por conseguinte, dificultam os sentidos no campo receptor. É necessário mudanças. Não é mais pensável um jornalismo dirigido a um leitor simples, mas a uma pessoa acostumada a buscar explicações e analisar a sociedade.
Se aceitarmos o fato de estarmos inseridos uma sociedade complexa, em que se multiplicam as interações entre os media e seus leitores, parece claro que o jornalismo que respeite essa complexidade corresponda a um leitor que seja capaz de interpretá-la.
(Maicon Kroth)
Texto apresentado na disciplina de Crítica das Práticas Jornalísticas.
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