O site Observatório da Imprensa (OI) é um espaço de discussão e militância sobre as boas práticas jornalísticas. É evidente que esse veículo de crítica midiática representa um avanço para a sociedade. É exatamente o caráter interativo que pode contribuir para uma participação mais eficaz do seu público no debate sobre o que a mídia produz. Porém, quando se trata de assuntos acerca da cobertura das eleições 2010, surge a dúvida: O OI se constitui em um espaço democrático e seguro de formação de opinião pública?
Considerando que o ato de criticar é relativo e autônomo, por ser o julgamento do mérito pertencente à ordem da liberdade de espírito, a ideia exposta e compartilhada pelos articulistas tem inúmeras possibilidades e probabilidades de produção de sentidos. Por esse motivo, é importante a consideração de outros fatores contextuais aos artigos publicados. A intenção aqui é analisar e clarificar os conceitos básicos que norteiam o trabalho desenvolvido por articulistas do OI no que se refere à cobertura jornalística sobre as eleições presidenciáveis. O eixo condutor dessa reflexão está baseado na ideia de que a crítica não pode apresentar uma avaliação puramente subjetiva, mas também, deve oferecer uma descrição de aspectos objetivos concretos que deem sustentação aos argumentos.
Nessa perspectiva, os artigos apresentados até o momento no OI são exercícios intelectuais e lógicos que se opõem ao tratamento dado pela grande mídia. Como exemplo, no artigo do dia 7 de setembro de 2010, “O jornalismo de simulacros”, assinado pelo jornalista Washington Araújo, explicita-se uma revolta sobre a abordagem do caso da violação do sigilo fiscal de cinco personalidades ligadas ao PSDB, sendo que a estrela-vítima é Verônica Serra, filha do candidato à presidência, José Serra. A posição de repúdio desenvolvida no texto contempla a contextualização da experiência ideológica do jornalista que também é colunista do Portal esquerdista, Carta Maior.
Para Washington Araújo, a construção das notícias se faz no âmbito do denuncismo, sem apurações mais contundentes. Além disso, ele diz que os espaços nobres dos grandes jornais impressos, revistas e portais do país se transformaram em editoriais com declarações explícitas da posição contrária à candidata do PT, Dilma Rousseff. O articulista argumenta que esses veículos jornalísticos já se apoderaram da suposta verdade, proferindo sentenças finais em suas redações/tribunais. A condenação pela imprensa está vinculada à noção de poder discursivo, uma qualidade vicária do jornalismo.
O que se constata nas críticas do OI sobre a cobertura das eleições são denúncias alarmantes do abuso do direito à liberdade de expressão das empresas jornalísticas, do desalinhamento explícito da imprensa brasileira com a campanha política de Dilma Rousseff, ou do engajamento da grande mídia na oposição à candidata. Os artigos geram inúmeros comentários de internautas das mais variadas áreas de atuação. A maioria deles contempla a opinião dos articulistas. Em contrapartida, há os que discordam e não medem palavras para explicitarem suas opiniões.
A estrutura observada é porosa, porque apesar dos argumentos serem coerentes e comprovados, essas denúncias se constroem basicamente pela posição político-partidária dos críticos e, principalmente, pela postura da nova crítica, defendida por Ciro Marcondes Filho, de assumir oposições e paradoxos para conviverem em um mesmo território. É justamente esse espaço múltiplo que possibilita afirmar que no OI há abertura para a diversidade interativa e para a expansão de horizontes. Conforme José Luiz Braga, essa possibilidade de interação em um ambiente diferido e difuso gera processos interpretativos que estão além do que a mídia produz, e sim nas respostas das práticas sociais, a partir do que a sociedade apresenta. Sendo que, as ações dos articulistas e comentaristas podem se misturar e se interferirem mutuamente, caracterizando-se em contrapropositivas, interpretativas, proativas, corretoras de percurso, controladoras, seletivas, polemizadoras, laudatórias, de estímulo, de ensino, de alerta, de divulgação, venda, etc.
Com isso, pode se dizer que o espaço de crítica no OI é democrático, pois apesar da crítica especializada ser, em unanimidade, contrária à cobertura da grande mídia sobre as eleições presidenciáveis, está aberta para todas as formas de comentários, inclusive os mais ríspidos e desrespeitosos. É bem provável que exista alguma moderação de participação do internauta, mas é seguro afirmar que esse espaço exerce a competência de tensionar múltiplos processos interpretativos, gerar dinâmicas de participação e, por consequência, fornecer esclarecimento e percepção ampliada para o seu público.
(Autor: Adriana Garcia)