28 maio 2012

Jornalismo e a cultura da alteridade

Marcia Veiga*
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Caras e caros colegas do Grupo de Pesquisa,
A propósito de alguns dos temas surgidos em nossa discussão no último encontro – a dificuldade na prática do exercício da alteridade no jornalismo (e pelos jornalistas) e a possível necessidade de investimento em pesquisas que possam adentrar além nos processo simbólicos de produção de notícias – resolvi tomar a liberdade de partilhar um texto que, infelizmente, só muito recentemente (nessa última semana) vim a conhecer.
O texto Jornalismo e a cultura da alteridade, de Stuart Allan (pesquisador da Universidade de Bournemouth, Reino Unido), publicado na revista Brasileira da SBPJOR (BRAZILIAN JOURNALISM RESEARCH - Volume 6 - Número 2 – 2010) traz uma revisão de pesquisas e de  ações (inclusive de veículos), desenvolvidas muito recentemente na Europa,  que dão não apenas a dimensão da participação do jornalismo no sistema de valores de uma sociedade, bem como identificam  o reconhecimento dos impactos sociais, mercadológicos e profissionais negativos desta imbricação, e as ações que vem sendo estimuladas para transformar a prática jornalística numa ação de responsabilidade social.
O reconhecimento das desigualdades de gênero, classe, raça, etnia dentro das redações e nas próprias notícias (inclusive a constatação de que o jornalismo é masculino também em seus valores de profissão), bem como os impactos da pouca diversidade de identidades sociais entre os profissionais (majoritariamente formados por homens, brancos, ocidentais, heterossexuais, com valores judaico-cristãos),  e as implicações diretas nas relações de poder e nos discursos noticiosos, majoritariamente marcados pela ausência do exercício de alteridade, são algumas das discussões propostas no texto.
O encontro com esse texto particularmente me tocou por demonstrar semelhanças entre os dados das pesquisas apresentadas e os dados de pesquisa que obtive durante o estudo de mestrado. Também outras questões abordadas no artigo fazem sentido agora (também em decorrência da pesquisa anterior) por estarem relacionadas a temas que me interessam investigar no doutoramento, e que envolve pensar a formação do jornalista. Ao longo de todo o artigo fui positivamente surpreendida. Tomar conhecimento, por exemplo, de que há, por meio de veículos de imprensa do Reino Unido, ações visando à promoção do exercício de alteridade na produção das notícias e o aumento da diversidade de pessoas e pensamentos (nas redações e nas próprias notícias), partidas do reconhecimento da participação do jornalismo na produção de valores e de desigualdades, me devolveu a esperança de pensar novos modos de reflexão e de prática desta profissão. Igualmente a referência direta do autor às escolas de jornalismo como um espaço importante para uma transformação nesse sentido me encorajou a seguir adiante.
Assim, partilho com vocês o texto com o desejo de que lhes possa trazer tão boas sensações e conhecimentos quanto as que provocou em mim.
Um abraço.
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Marcia Veiga é jornalista, mestre e doutoranda em Comunicação e Informação (UFRGS), autora da dissertação Masculino, o gênero do jornalismo: um estudo dos modos de produção das notícias. Membra do Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo (GPJor) do PPGCCOM da Unisinos.

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