Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Caras e caros colegas do Grupo de
Pesquisa,
A propósito de alguns dos temas
surgidos em nossa discussão no último encontro – a dificuldade na prática do
exercício da alteridade no jornalismo (e pelos jornalistas) e a possível necessidade
de investimento em pesquisas que possam adentrar além nos processo simbólicos
de produção de notícias – resolvi tomar a liberdade de partilhar um texto que,
infelizmente, só muito recentemente (nessa última semana) vim a conhecer.
O texto Jornalismo e a cultura da alteridade, de Stuart Allan (pesquisador da Universidade de Bournemouth, Reino
Unido), publicado na revista Brasileira da SBPJOR (BRAZILIAN JOURNALISM
RESEARCH - Volume 6 - Número 2 – 2010) traz uma revisão de pesquisas e de
ações (inclusive de veículos), desenvolvidas muito recentemente na
Europa, que dão não apenas a dimensão da participação do jornalismo no
sistema de valores de uma sociedade, bem como identificam o
reconhecimento dos impactos sociais, mercadológicos e profissionais negativos
desta imbricação, e as ações que vem sendo estimuladas para transformar a
prática jornalística numa ação de responsabilidade social.
O reconhecimento das desigualdades
de gênero, classe, raça, etnia dentro das redações e nas próprias notícias
(inclusive a constatação de que o jornalismo é masculino também em seus valores
de profissão), bem como os impactos da pouca diversidade de identidades sociais
entre os profissionais (majoritariamente formados por homens, brancos,
ocidentais, heterossexuais, com valores judaico-cristãos), e as
implicações diretas nas relações de poder e nos discursos noticiosos,
majoritariamente marcados pela ausência do exercício de alteridade, são algumas
das discussões propostas no texto.
O encontro com esse texto particularmente
me tocou por demonstrar semelhanças entre os dados das pesquisas apresentadas
e os dados de pesquisa que obtive durante o estudo de mestrado.
Também outras questões abordadas no artigo fazem sentido agora (também em
decorrência da pesquisa anterior) por estarem relacionadas a temas que me
interessam investigar no doutoramento, e que envolve pensar a formação do
jornalista. Ao longo de todo o artigo fui positivamente surpreendida. Tomar
conhecimento, por exemplo, de que há, por meio de veículos de imprensa do Reino
Unido, ações visando à promoção do exercício de alteridade na produção das
notícias e o aumento da diversidade de pessoas e pensamentos (nas redações e
nas próprias notícias), partidas do reconhecimento da participação do jornalismo
na produção de valores e de desigualdades, me devolveu a esperança de pensar
novos modos de reflexão e de prática desta profissão. Igualmente a referência
direta do autor às escolas de jornalismo como um espaço importante para uma
transformação nesse sentido me encorajou a seguir adiante.
Assim, partilho com vocês o texto
com o desejo de que lhes possa trazer tão boas sensações e conhecimentos quanto
as que provocou em mim.
Um abraço.
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Marcia Veiga é jornalista, mestre e doutoranda em Comunicação e Informação (UFRGS), autora da dissertação Masculino, o gênero do jornalismo: um estudo dos modos de produção das notícias. Membra do Grupo de Pesquisa Estudos em Jornalismo (GPJor) do PPGCCOM da Unisinos.
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