Miriam Chnaiderman e Daisi Vogel |
Se os trabalhos da manhã motivaram reflexões sobre os locais de fala de quem usa a entrevista como instrumento de trabalho – seja no papel de entrevistado ou de entrevistador – a segunda mesa do Seminário Aberto de Jornalismo, promovido pelo GPJor, colocou o uso da entrevista ainda mais no centro do debate. Sob o tema Sujeito da entrevista: diálogo, relação com poder, Daisi Vogel, professora da UFSC, Liliana Sulzback, jornalista e diretora de cinema, Miriam Chnaiderman, psicanalista e documentarista, e Carlos Rafael Guimaraens, jornalista e escritor, trouxeram exemplos da inserção da entrevista em seus trabalhos. Para todos os painelistas, a sua produção se dá a partir de percepções que nascem a partir da entrevista e das relações dicotômicas entre diálogo e poder que se estabelecem nela.
Para a documentarista Miriam Chnaiderman, a “a psicanálise dá instrumentos para o que se passa na entrevista”. E, em última instância, coloca a entrevista como uma busca à realidade dos fatos. “E é necessário pensarmos a entrevista enquanto algo que circula entre entrevistado e entrevistador”. Isso que circula é a matéria-prima para seus documentários. Só que nem sempre quem questiona e quem é questionado se alinham. É quando surge um detalhe que altera essa configuração: num documentário, é necessária inserção de equipamentos como a câmara. Para Miriam, colocar a maquinaria diante dos dois quebra a hierarquização que possa haver. Estando agenciados pelo maquínico, a circulação se dá em tom maior de igualdade. “A câmara desloca o sujeito-objeto e tira do entrevistador a posição de poder”.
Para a documentarista Miriam Chnaiderman, a “a psicanálise dá instrumentos para o que se passa na entrevista”. E, em última instância, coloca a entrevista como uma busca à realidade dos fatos. “E é necessário pensarmos a entrevista enquanto algo que circula entre entrevistado e entrevistador”. Isso que circula é a matéria-prima para seus documentários. Só que nem sempre quem questiona e quem é questionado se alinham. É quando surge um detalhe que altera essa configuração: num documentário, é necessária inserção de equipamentos como a câmara. Para Miriam, colocar a maquinaria diante dos dois quebra a hierarquização que possa haver. Estando agenciados pelo maquínico, a circulação se dá em tom maior de igualdade. “A câmara desloca o sujeito-objeto e tira do entrevistador a posição de poder”.
Daisi Vogel (UFSC) |
Daisi Vogel expõe que seu objeto de pesquisa foi a entrevista propriamente dita. Mais especificamente as que foram concedidas por Jorge Luis Borges. E para ela, para pensar a entrevista é preciso pensar “o que chamo de troca de turno de falas. No caso da entrevista por e-mail, só de fato se daria se houve um fluxo, interação na troca de mensagens”, acrescenta respondendo ainda uma provocação da primeira mesa. Durante a manhã, foi posto em questão o funcionamento da entrevista por e-mail que, em muitos casos, afasta-se da idéia dialógica e se coloca muito mais como uma produção textual. Assim, Daisi aproxima o conceito de entrevista à idéia de diálogo. Só que ela é ainda mais do que uma conversa. “Uma entrevista tem um fim. Tem seu caráter conversacional, mas se organiza de acordo com a situação e intenção dos envolvidos”.
Rafael Guimaraens |
É mais ou menos a mesma linha que o jornalista Carlos Rafael Guimaraens traz na sua participação. Depois de relatar os deslocamentos de lugares de fala que já teve em torno da entrevista, recupera a importância de grandes entrevistas. “Que já tiveram lugar de destaque na imprensa”. E parra isso, exigia-se um esforço e o jornalista tinha de ir ao encontro de entrevistado. Nessa situação, nem se cogitava conversas via telefone, muito menos através de e-mail. “Essa prática (da entrevista escrita por e-mails) pode levar os jornais a um autismo, perdendo completamente o contato com o mundo real”, pontua ao criticar práticas de redações de fazer jornalismo com olhares só para seu interior.
Liliana Sulzback |
A tarde encerra com a diretora de cinema Liliana Sulzback que, logo no começo da fala, dispara: “a entrevista não é privilégio do jornalista”. Com isso, quer evidenciar que é a base para o trabalho de vários profissionais. Entre eles, o documentarista. Apesar disso, traz uma tensão interessante. Entende que é preciso pensar um documentário além da narrativa baseada só nas entrevistas. “Não que isso não seja válido, mas precisamos pensar além e fazer esse exercício de colocar imagens nas entrevistas”. O fato de posicionar a entrevista como algo instrumental força uma relação sobre todo o processo de construção a partir da entrevista e não só através dela. Assim, destaca que, para quem quer trabalhar com documentário, o uso da entrevista “não pode ser um ato preguiço”. Ou seja, exige reavaliação e recomposição da narrativa num ritmo que será ditado pelo próprio desenrolar da entrevista.
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(Texto: João Vitor Santos)
(Fotos: Beatriz Sallet)
Um comentário:
Que bom que posso acompanhar um pouco do evento por aqui. Saudações e felicitações a toda a equipe!
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