27 fevereiro 2012

A construção de sentidos sobre a morte: percepções críticas sobre o viver e o morrer em Veja

Com base em uma perspectiva histórica, construcionista e discursiva é possível perceber como a questão da finitude da vida, da morte das pessoas próximas e do próprio morrer vem sendo concebida de diferentes maneiras ao longo de diferentes períodos, e como tal assunto adquire novos tons, se percebido a partir de diferentes contextos.
É partindo desse lugar de fala que Philippe Ariès (2003) ressalta que a morte, encarada em um primeiro momento como algo natural, como um assunto cotidiano e, portanto, comum, passa a corresponder a um tema interditado, proibido, de difícil e indesejável aproximação, sendo, ainda, recalcado, aproximando-se agora de um ponto proposto por Norbert Elias (2001).
Nesse sentido, partindo de uma perspectiva crítica, e ancorando-se, para tanto, em Kant (2008) e Foucault (1990), objetivou-se, tendo como material empírico de análise sete reportagens publicadas em Veja, cujos temas centrais eram a morte de personalidades públicas, empreender um movimento que, nós termos de Foucault (1990, p. 05), permitisse “interrogar a verdade sobre seus efeitos de poder e o poder sobre seus efeitos de verdade”.
O que se apreende, ao final do exercício, é que mesmo em situações em que a morte precisa ser exposta, ser discutida, ser trazida ao público – uma vez que a morte de princesas, de papas, de artistas e de esportistas não pode ser um assunto silenciado – tal questão tende a ser sobrepujada por outras.  Retomando Louis Quéré (2005) pode-se perceber que a morte como acontecimento revela, quando discursivizada, sentidos outros que muitas vezes tornam-se centrais. Dentre eles, principalmente, está a vida e o modo como essas vidas eram vividas e deveriam ter sido vividas.

Referências Bibliográficas
ARIÈS, Philippe. História da morte no ocidente: da idade média aos nossos dias. Rio de Janeiro: Ediouro; 2003.
ELIAS, Norbert. A solidão dos moribundos, seguido de envelhecer e morrer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 2001.
FOUCAULT, Michel.  O que é a crítica? [Crítica e Aufklãrung]. Bulletin de la Société Française de Philosophie, 82, 2 (avr-juin.), 35-63, (Conferência proferida em 27 de maio de 1978). Gabriela Lafetá Borges (trad.), Wanderson Flor do Nascimento (revisão). 1990. Disponível em: . Acesso em 08/12/11
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta o que é iluminismo. In: Kant, Immanuel. A paz perpétua e outros opúsculos. Lisboa, Edições 70, 2008.
QUÈRÈ, Louis. Entre facto e sentido: a dualidade do acontecimento. In: Trajectos, Revista de Comunicação, Cultura e Educação, n 6, 2005.
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(Autor: Felipe Viero Kolinski Machado)

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