No ano de 1910, Edward Ross, um dos pioneiros da sociologia norte-americana, publica na revista Atlantic Monthly um artigo que se tornou referência nos estudos em jornalismo. O artigo “A supressão das notícias importantes” nos apresenta um diagnóstico precoce das transformações pelas quais os jornais da época estavam passando, demonstrando a divisão entre propriedade e comando editorial, um afastamento dos princípios positivistas do jornalismo como defensor da democracia e uma gradual profissionalização da área. Ross identifica uma prática de mercantilização das notícias onde determinados acontecimentos sobre alguns grupos que financiavam os jornais simplesmente eram suprimidos dos periódicos, a fim de preservar a imagem e os lucros destas empresas, Ross destaca que essas empresas eram chamadas nas redações de as “vacas sagradas”.
Hoje, percebemos que não só as práticas mercantis usadas pelos jornais na época de Ross ainda continuam em vigor, como se aperfeiçoaram de modo a ter o jornalismo não como fonte de informação, mas sim, como forma de lucrar cada vez mais com a notícia, seja publicando ou suprimindo-as. Um exemplo claro dessas práticas ocorre frequentemente no radiojornalismo interiorano. Considerado como fonte primária de informações locais por grande parte da população que reside em cidades pequenas do interior, o radiojornalismo exerce sua influência não em prol de uma pluralidade de informações e de uma postura ética em relação ao seu público. Algumas rádios do interior se especializaram em caçar e laçar as “vacas sagradas” apontadas por Ross. Sendo característica das pequenas cidades interioranas uma infraestrutura econômica simples se torna mais fácil identificar quais são essas “vacas sagradas”, o exemplo que segue é o que melhor caracteriza essa forma de caça do radiojornalismo.
Uma das principais “vacas sagradas” do radiojornalismo de interior são as agroindústrias, por várias vezes a população ribeirinha de uma cidade do meio-oeste de Santa Catarina denunciou à rádio local o vazamento de dejetos no rio que corta a cidade, sabendo que esta agroindústria é uma multinacional e não pode enfrentar problemas com relação ao meio ambiente devido à forte campanha publicitária que faz em nome da sustentabilidade, o departamento de jornalismo da rádio prepara uma ótima matéria sobre o acontecimento, com relatos dos moradores e de algumas fontes oficiais, entretanto, a matéria não vai ao ar como seria o esperado, ela vai para as mãos do pessoal do departamento comercial, que não demora em entrar em contato com a diretoria da empresa, mostrar a matéria, assinar o contrato de publicidade para emissora e arquivar a matéria.
Essa prática nos revela o verdadeiro espírito “cowboy” dos jornalistas radiofônicos do meio-oeste, mas não os cowboys heróicos apresentados pelos faroestes holywoodianos, mas sim os “cowboys” históricos que foram responsáveis pelas chacinas indígenas no oeste norte-americano e pelos roubos, saques e assassinatos de pequenos colonos que pensavam em fincar raízes e construir um lar naquela região, entretanto, os nossos “cowboys” chacinam a ética profissional do jornalismo e saqueiam o direito à informação da população que sequer tem conhecimento que está sendo lesada.
(Autor: Marlon Sandro Lesnieski)
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